terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Um duelo digno *

Depois de longas batalhas: farpas; cortes; sangue; suor perdido e desperdiçado, resolvi me entregar.
Deixei meu escudo cair.
Ferido e cansado senti que era inútil ficar lutando e tentando matar um dragão que, se em um dia morresse, perderia seu valor e meus méritos.

Ardendo debaixo do sol e procurando a melhor estratégia possível, achei que não merecia ser apunhalado.
Somente eu o conhecia e, somente eu o via e sabia seus costumes. Eu tinha aprendido a lidar com ele. Tinha descoberto seus horários, morada e hábitos.
Debaixo de temperaturas insuportáveis, o frio da neve e o calor do fogo
do dragão e do sol, me fizeram pensar melhor e refletir se aquele meu dragão realmente mereceria morrer.

Ninguém acreditava e ninguém acreditaria.
Não suportando e nem aguentando mais, decidi jogar a lança num lago;
Abaixei a cabeça e soube perder...
Abaixei a cabeça e soube perdoar...

Quando alguns souberam da minha proeza, não fiz muita questão, mas a verdade prevaleceu: Ele nunca me venceu, eu apenas me entreguei e o deixei ganhar.
Acabava sempre o assunto com um “Um dia poderei voltar...”
Quando você olha para o céu infinito com milhões de gotas escorrendo sob você (a chuva, a neve, o suor e as lágrimas...) a vontade de vencer supera a dor.
Começa-se a refletir e pensar se mesmo superior e mais sábio, sairia de lá vivo, se valeria a pena sofrer tanto por algo que ninguém valorizaria.
Situações improváveis e impossíveis me faziam pensar em desistir, mas sabia que quando as coisas se complicam, tudo fica difícil e quase sem solução...
Mas mesmo que pareça não existir, de todas elas, a menos dolorosa, é a melhor!Sempre há solução:
“para todo problema existe uma solução”.


Tudo tinha que ficar bem.


Hoje me pego em devaneios e as vezes, até penso nele.

Foi um inimigo que acabou ficando meu amigo...
Ele aprendeu a me respeitar, embora nunca tenha duelado diretamente ou me ameaçado.
Acho que no fundo até sabia o sentia.
Agora estou numa nova aldeia, conhecendo guerreiros diferentes, habitantes diferentes, inimigos diferentes.
Vivo respirando um ar mais claro, puro e verdadeiro e claro - com temperaturas mais fáceis de suportar.
Eu sei que um dia esse ar se tornará poluído, venenoso e insuportável.
Mas estou contente por ter mais colegas e mais inimigos.
Posso perder, vencer e me valorizar.
Dar e receber respeito, poupar mais vidas.

Meus verdadeiros esforços estão guardados para novas batalhas e novas guerras. E sim, foi por isso me entreguei.

* Julho de 1997.

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