terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Grãos *

Muito tempo se passou;
muito tempo se esperou;
muito tempo se ganhou.
Tempo, para pensar;
tempo, para esquecer;
tempo, para viver;
tempo, para mudar.
Um tempo onde a espera fora ignorada e esquecida
(Uma espera como uma esfera) - sem saber o começo e o final
Uma espera sem (pequenas) angústias
Um tempo se esperou, um tempo se perdeu, muito tempo se ganhou.
Bastou paciência, bastou acreditar em você (mesmo),
bastou acreditar em ignorar (as maiores e únicas preocupações),
Bastou ignorar o Tempo (perdido).
Esse tempo que fez baixar a poeira para enfim se enxergar (e voltar ao mesmo ponto)
Estava num deserto, sem ninguém
Estava com sede, sem a preciosa água (e até tinha o inútil do dinheiro para comprá-la, só não sabia onde)
Se eu corresse, eu me cansava;
Se eu esperasse, eu morreria;
Se eu pensasse, me torturaria.
Foi quando um tufão se aproximou, um redemoinho (de problemas) se despertou,
A ventania veio, as areias se enfureceram.
jorravam angústia, força (de vontade), desespero e raiva
queriam machucar, queriam derrubar, queriam destruir (o pouco que já existia)
A areia subiu, entrou nos olhos, arrancou as poucas raízes que existiam,
Com os olhos fechados achei que o céu tremia e o chão rachava,
Ignorei os milhares de grãos existentes (nos olhos) e no ar,
Se eu não tentasse abrir, se eu não lutasse (contra mim mesmo) eu morreria.
ali, sem ninguém me ver, sem ninguém me escutar, sem ninguém me procurar.
Com coragem, ignorei os grãos, me fixei ao chão, ao cume de uma duna.
A ventania se acalmou, a areia baixou e eu, enfim, enxerguei.
Estou novamente ao deserto - vivo -, sem ninguém, sem a água e sem comida.
Estou novamente ao deserto - vivo -, esperando outro tufão.
Estou novamente ao deserto - vivo -, apenas vivo.


* - Março 1997

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