terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Raios

Beto estava morrendo de fome.
Também pudera, uma baita chuva dessas, não sobrava muitas opções além da periódica visita à geladeira.
Escolheu queijo. Pegou 2 fatias de pão de forma com centeio e com um equilibrio pouco usual abraçou a torradeira.
Após apoiar o eletrodoméstico na pia, relaxou os braços soltando os produtos no mármore, agora bastava ligar a tomada.
Foi quando sua vida começou a mudar.


No exato minuto em que colocou a tomada no buraco da parede, lembrou que o fio estava desencapado.
E como ninguém tinha mais azar que ele no mundo, escutou-se um trovão e aquele raio que você só enxerga nos vídeos da Discovery Channel, atingiu a rede elétrica da sua casa.

Beto foi atingido por uma descarga elétrica de milhares de volts.
Ficou trêmulo, babava. Seus olhos viravam e numa espécie de convulção ficou encolhido no chão por alguns minutos.

Achando já estar morto, abriu os olhos e quis conhecer o paraíso.
Assim que apoiou a palma da mão no chão para se levantar, não reparou, mas ele acabara de abrir dois rombos no chão.

Quando ficou ereto buscou equilíbrio.
Sentiu o cheiro de queimado quando sua mão segurou o batente da porta de madeira.
Ao retirar a mão, via-se claramente o molde da mesma em cor acentuada.
Percebeu que seu corpo estava diferente.

Possuía a maldição de acelerar partículas.
Derretia, fervia coisas ao menor contato de suas palmas.


Uma descarga de adrenalina percorreu eu sistema sanguíneo.

Parecia estar curado do choque levado.
O mesmo que o projetou longe de onde estava.

Comecou entender que sua vida não era mais a mesma.
Com somente o indicador levantado, encostou na parede e logo o viu, através do contato, sair uma pequena fumaça.
Apertou-o mais e ele começou atravessar a matéria.

Riu. Ele era um super herói. Um X-men.
Um monstro capaz de conquistar o que quisesse.

Pensou em riquezas, mulheres, fama e status.
Imaginou dando entrevistas e exibindo seu poderio ímpar.
Ao mesmo tempo, idéias como "devo usar máscara" para permanecer anônimo com seu poder passou por sua mente.

Quis avisar seu melhor amigo e, quando segurou o gancho do telefone, como um pegador de saladas, fez os dois bocais se encontrarem, devido a base central estar sendo derretida.

Largou e, tentando contextualizar a imagem do gancho derretido com sua palma da mão intacta, não chegava a uma conclusão sensata.

Correu até o quarto e, ao pegar o celular, tentou, de maneira rápida, digitar o número de seu pai.
Como era o esperado, no terceiro dígido ele já havia produzido três furos no aparelho.
Ficou em pânico, desesperado. Precisava de ajuda.
Sem perder qualquer segundo, saiu correndo.

Derretendo a maçaneta da porta de entrada, girou e ganhou o gélido vento que espirrava pingos d´agua da chuva, ainda forte e barulhenta.
Protegeu seus olhos com o ante-braço enquanto caminhava até o portão.
Ao tocar o portão, liberou uma energia incrível.
Somado ao poder da cerca elétrica, a máquina próxima as engrenagens do portão eletrônico devolveu, numa espécie de curto-circuito, a dor que ele estava causando ao mundo.
Não podia brincar de ser Deus.
Caiu de costas no gramado e, olhando o céu negro despejando toda fúria da tormenta tempestade, deu seu último suspiro.
Foi assim. Veio e foi como um raio.

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