terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O último degrau

Vicente "Escadinha" teve uma infância diferente.
Enquanto muitos entravam no campo de futebol com o pé direito, ele usava como mandinga uma escada. Isso mesmo, uma escada.
Era um costume diferente e, até por isso o pessoal gostava dele.
Extremamente arteiro, era de certa forma quieto. Normalmente por sua causa as rodas de discussões sempre começavam.
Como se não bastasse transportar aquela escadinha prá lá e prá cá, sentava lá no alto. Trazendo sempre desafetos aos companheiros de rua.
Não jogava bola. Ficava lá em cima como um árbitro de tênis. Mas ele era feliz assim.
Quando todos iam jogar bolinhas de gude, a dele vinha que nem um míssel lá de cima.
Briga na certa. Dificil mesmo era ele não quebrar a bola de ninguém.
Vicente "Escadinha" foi crescendo e seus degraus também.
Passou a se divertir com jogos de tabuleiro.
Mas nem preciso dizer que o dado vinha que nem um granizo do céu numa velocidade descomunal pronto para quebrar todos peõeszinhos do jogo.
War e Banco Imobiliário eram as coisas mais difíceis. Aquela cacetada de exércitos ou, casas e hotéis tudo enfileiradinho para surgir do nada... Sim..
Algo de lá de cima.
E Créu. Via-se pedaço de jogo para os quatro cantos da sala. Isso se não era na grama, o que fazia todos perderem suas peças.
Ninguém mais queria jogar com ele. Todos começaram a não levar mais os jogos.
Baralho ficou difícil. Se ele chegasse a apreder poker seria ofensivo e até perigoso vir fichas do céu com tanta violência.
Na faculdade ele sentava lá no fundo. Então ficava a quatro degraus de todos. Não que isso significasse distinção nas notas.
Ele ficou quase autista.
Vivia nas nuvens.
Almoçava e jantava lá.
Sozinho com seus pensamentos.
Quando ia dormir, descia.
Triste, descia um a um. Mergulhava em sua cama e, deitado, com todas luzes apenas em sua mente, buscava focalizar o ultimo degrau no canto do quarto.
Você leitor, deve estar pensando. "Coitado, que cara triste. E os pais dele?"
Enquanto escrevo o final, pensei em até dizer que ele hoje está subindo os mais altos degraus já alcançados pelo homem. Num lugar claro, cheio de paz. Praticamente nas nuvens.
Mas acho que a felicidade está no coração de cada um.
Aonde você acha que a história de Vicentinho foi parar?
Quem pensa positivo, recebe energia positiva.
Por um momento pensarei que ele hoje é salva vidas.
Que trabalha feliz. Todos os dias acorda e por obrigação salva inúmeros banhistas descuidados.
E, ao contrário de muitos, se realiza apenas a hora de subir aqueles degraus secos marcados com o sol estatelado numa madeira riscada de tinta velha.

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