terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Sob os olhos de Deus

Parecia ser terça feira, acordou e olhou para céu azul claro.
O sol queimava sua retina.
Automaticamente suas pálpebras recuaram e a musculatura de sua face se contraiu.
Os dentes centrais até apareceram.

Sentia que iria viver. Poderia até ser um avião.
Queria ser salvo.
Seus pés rachados e maltratados, cortados e extremamente machucados se perdiam entre a areia escaldante e a água gelada do mar.
Ondas suaves, brisa quente, trilha sonora favorita de férias. Tudo poderia sim ser esse sonho.
A gota salgada e morna que escorreu em meio sua barba por fazer não era da espuma do mar.
Fome deixava seus ossos cada vez mais frágeis e trêmulos.
Trapos. Grifes que valiam como folhas.
Em sua memória o cheiro doce e agradável do perfume que costuma usar.
Confuso. Corria em direção do barulho.
Precisava ser salvo.
Em horas correu entre árvores sem saber o destino.
O som das marés a essa altura - e distância - poderia ser apenas eco.
Perdido, procurava algo para identificar.
Doeu quando sorriu. Era uma pedra engraçada, quase quadrada.
Esses rápidos segundos lembraram décadas.
Num devaneio podia jurar que ali caberia um carneiro. (com buracos para ele respirar, é claro).
Agora já é tarde. O sol vai morrer, a lua vai nascer e seu corpo se perder.
Cavocou com os calcanhares um buraco na terra gelada.
Abraçou seu próprio corpo num ritmo semelhante às rajadas dos ventos que cegavam seus olhos cansados com grãos cristalinos.
Seus olhos e seus lábios, mesmo fechados, provavam incessantemente a inquietude de sua alma.
Sonhar?
Pouco importava. Ele sobreviveu mais um dia.
Precisava continuar acreditando que amanhã será salvo.

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