terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A montanha russa *

A bebida russa, a montanha russa, a roleta russa.
todos com o mesmo objetivo: a provação. Vontade em vencer o desconhecido.
Não importa o frio, a falta de calor para beber e se manter aquecido, o suor frio, o frio na barriga para provação de um brinquedo, o sangue frio de desafiar a morte.
A nós, importa a estupidez humana, a loucura de uma paranóia. Pagar para sofrer.

Dirigir por dezenas de minutos, se expondo aos perigos, irritações e má sorte.
Enfim, se chega ao parque - das diversões. A risada é forçada, o dinheiro -que muitos não têm- é desperdiçado, para desafiar, passar mal, medo, num “brinquedo”. Carregado e engatilhado (e muitos ainda julgam seguros e eficazes).
Você escolhe de logo o pior e o mais caro.
Você compra o bilhete, o ingresso, a entrada: O convite.
Se paga pra perder algo que nunca vai ter. A coragem.

A montanha russa, enorme mostro, cova dos leões, desafiada por você.
Um gladiador, um lutador que um dia quis chorar, um simples humilde homem que um dia quis ganhar.
A cada passo, se inferioriza. Diminui, se empobrece, se enfraquece.

Chega a hora e você dá o ticket, carrega o tambor, cambaleia, assento a postos, a trava -totalmente insegura- se mostra ser satisfatória para desafiar a vida, e você se sente amarrado, preso e amordaçado. A velocidade começa a aumentar e você começa a girar. Órbitas.
É a primeira queda, apenas a primeira em relação as outras milhares que virão.
Se agarra ao cinto, a uma trava e fecha os olhos.
Como uma bebida amarga, comprime os olhos, numa amargura não só em sua boca, mas em sua mente e coração.
Gira o tambor e o brinquedo começa funcionar.
Lentamente o destino traçado vai se escrevendo. Mais um dia, sua vida.
A hora do disparo, um grito no escuro.
Ninguém pode te salvar.
Ninguém quer te salvar.

Você, preso numa cadeira semielétrica -por escolha própria-, querendo viver.
Você, chamando problemas, criando absurdas situações que em um dia mudará (para melhor?).
Você, apenas você, lutando contra o mundo e principalmente, contra você.

* Março de 1997

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