terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Nos tempos da nostalgia

Na infância, como passatempo aos finais de semana, jogava futebol de campo nos campeonatos internos do clube que era sócio.
Engraçado pensar hoje sobre essas partidas de quase 25 anos atrás.
Como minha memória ainda me crava espinhos numa versão 3D, lembro claramente do meu primeiro campeonato. Devia ser 1984, jogava pelo Palmeiras (os fraldinhas eram chamados de série 1, com times paulistas), e pela falta de opções, na ingrata posição de goleiro.
Até bola fora da área eu peguei com a mão. Mas o episódio que mais permanece intocável em minha mente foi a semi-final.
Palmeiras e Santos. O Santos vinha com os craques, os garotinhos mais avantajados e truculentos, ao mesmo tempo habilidosos.
Meus pais me levavam todo final de semana aos jogos, e assim minha torcida particular era formada por meus pais e minha irmã, todo fim de semana.
Acontece que nesse jogo, a Caravan Diplomata de meu pai deu um problema na metade do caminho, e para não perder o jogo e desfalcar a equipe, fui de taxi com minha mãe e minha irmã.
Estava tremendo. Chorava perguntando sucessivamente se meu pai já estava lá.
Entrei no campo e olhava sem parar a arquibancada e não o via. Isso me deixou tão agonizado e inseguro que comecei a tomar gols um atras do outro.
Na época, o Santos era o favorito, mas estávamos no páreo. Mas aquele dia eu não olhava mais pro campo.
Fiquei o jogo inteiro olhando para a lateral do campo, e somente na metade do segundo tempo meu pai chegou.
Já era tarde e nada pudemos fazer. Não conseguimos reagir, o Palmeiras perdeu aquele jogo por 8 a 1.
O Santos foi para a final esperando o vencedor de São Bento e Portuguesa.
Após uma tímida passagem pelo Atlético Mineiro na série 2, passei logo a série 3, agora dente-de-leite e com times cariocas.
Não me lembro se jogava pelo Bangú ou Madureira, mas outro fato lembro bem.
Devia ser minha melhor fase, jogava mais no meio de campo. Mais defendia que atacava.
Salvei vários gols na linha embaixo da trave. Acho que em razão do gol ser muito grande, dividia com o goleiro a responsabilidade e o tamanho das traves. Se passava por ele, eu era o último homem e após chutes certeiros e indefensáveis pelo goleiro, salvava na última hora. Uma vez até de voleio. Belas lembranças.
Marquei alguns gols, um inclusive nas poucas vezes que desci determinado ao ataque.
Foi um jogo truncado, lembro que passei pelo goleiro e há 10 metros do gol dei um totó bem vagaroso. A bola ia entrando quando o colega/capitão de nome Adriano deu um chutão praticamente em cima da linha.
Fato: Vieram me perguntar para colocar na súmula do jogo de quem era o gol. O Adriano estava na artilharia e eu, bem timidamente disse que não me importava. Que tudo bem colocarem o gol para ele.
E ele atrás ia afirmando que realmente foi dele, que a bola não estava ainda dentro dos arcos.
E nesse dia acho eu que aprendi a crescer espiritualmente ou, como chamo, ganhar pontinhos no céu.
Por algum tempo me incomodou a atitude dele.
Meu nome não ficou no quadro de artilheiros e ninguém lembrou de mim.
Tudo isso até o jogo contra o Botafogo, time em que jogava meu primo de criação. Era fase inicial. Um jogo sem muitas emoções.
Um dos poucos em que fui ao ataque.
Mas o lance em que guardo na caixola décadas depois foi uma dividia próximo ao gol adversário.
A bola veio pingando desajustadadamente alta.. e na área, todos perdidos. Uns pulavam tentando cabeçear enquanto outros tentavam alcançar com pé alto a esfera.
Coincidentemente a bola veio parar entre eu e esse meu primo.
A bola acabou indo ao seu lado e muito desequilibrado, dominou a bola entre o peito e a coxa.
Nessa hora eu podia chegar com truculência, sei que a bola ia pingar no chão e ia sobrar livre para eu chutar ao gol, que poderia mudar o rumo do jogo e do meu time.
Mas fiquei sem graça de "atropelar" esse meu primo.
E essa ausência ficou martelando anos. "O que seria se eu tivesse dado um chutão e feito o gol?"
Eu precisava de atenção.
Eu precisava de estímulos para continuar acreditando em meu "talento" e esquecer meus medos.
Mas, nesse dia eu não chutei. E meu time não ganhou.
Passados mais de quinze anos, cheguei num consenso.
E tenho a mais absoluta certeza que fiz o certo.
O jogo passou, meu time foi desclassificado em fases mais adiantadas, e nada ganhei.
Opa, ganhei sim. Pontos no céu.

São esses fatos isolados que me deixam cada vez mais feliz em ter tomado decisões difíceis.

E esses fatos mencionados acima são só exemplos.
Meros exemplos.
Meros exemplos de escolhas difíceis.
Na minha vida sempre foi assim. Sempre. Tudo.
Prioridades.
Desistir para ganhar,
Voltar um passo para avançar dois.
Mas é exatamente nessa hora que mesmo sem saber, tudo acaba fazendo sentido.
Não na hora, mas sei que meus pontinhos no céu, uma hora acabam me agraciando de alguma forma.

Ainda estou na metade do caminho.
E mesmo não tendo conquistado "o mundo", sei que estou no caminho dele.
Hoje, começo entender algumas decisões. Mesmo sem saber direito as razões, começo entender, as vezes tardiamente (como as situações citadas) os porquês da vida.

Apenas entendendo.
Acertando, errando e decidindo.
Vivendo.

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