terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Sob os olhos de Deus III - O conto da salvação

Assim que o tsunami (de problemas) começou a dissipar, os pingos da chuva e das lágrimas passaram.
E enfim, ele adormeceu em paz.

Sabia que acordaria melhor.
"Amanhã será tudo diferente".

Acordou e tentou ver apenas as coisas belas.
Energias positivas atrairiam forças positivas.
Sentiu a brisa logo cedo sob seus cabelos.
A maresia que esticava a pele de sua face.
Caminhou.

Por horas se deparou com areia, barro, mato, caules, pedras.
A única vida, além da sua, era de algumas larvas.
Duvidou de Deus.
Os únicos sons, além dos seus passos, eram o vento e a água.

Foi quando avistou alguém.
Não poderia ser miragem.
Correu com todas forças, sabia que ia ser atendido.
Iria ser salvo.

Sonhou com uma volta excitante.
Pensou em fartas refeições.
Imaginou seu regresso da forma mais luxuosa.
Fantasiou-se limpo, cheiroso, esbelto e cheio de posses.

Aquela sombra começou a ganhar formas.
Parecia ser um senhor.
Uma aparência talvez pior que a sua.
Não importava, ele voltaria a ser feliz.

Cabelos longos, oleosos e grisalhos.
Enxergava agora com detalhes as cicatrizes que o tempo cravaram naquela pele flácida e judiada.
Não reconhecia aquele lugar, muito menos se na proximidade existia algum objeto ou transporte que aquele velho teria.
Seu mundo desabou.

Notou que as mãos do senhor estavam trêmulas e, com as unhas ele tentava extrair líquidos do caule de uma árvore.
E ele nem reparou a aproximação alheia.

Visivelmente desanimado o rapaz soltou um urro.
No mesmo instante, como num acesso de loucura, o senhor tentou procurar em todas direções a origem do som.
Quando viu, ele abriu os braços... ajoelhou-se e chorou.

Seus fracos ossos somada a escassa carne quase não suportava mais seu peso.
Suas rugas se contraiam em meio as lágrimas.
Seus braços longos e finos, demonstravam o êxtase e felicidade quando apontados ao céu.

O rapaz percebeu, seu sonho tinha evoluído.
Agora fazia parte de um pesadelo.
Pensava incessantemente que seus problemas, certamente se duplicaram.

O senhor mal conseguiu produzir alguma sílaba.
Mesmo assim, o rapaz não conseguiu esconder sua decepção.
Ficaram abraçados por muito tempo.
Parecia até que um ombro foi feito para o outro queixo. Como peças de quebra-cabeça.
Mas não importava muito.
E o rapaz agoniado não aguentou:

"Eu pedi para que Deus mandasse alguém para me salvar.
Não quero ofendê-lo, mas eu tenho mais suprimentos e recursos que você".
Lembrou da parábola e quis acreditar.
Se você suportar as larvas, conhecerá as borboletas.

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