sexta-feira, 29 de junho de 2007

Joãozinho melado nas pernas

“U cinema daqui é bom dimais, cê já foi? Lá niscuro, cumi até num pudê mais. Meti us denti numa sarcilha boa e sai tudo meladu nas perrna”.

Exato, terei que contar para ninguém se apavorar. Graças a Deus ele não foi conhecer o Cine Regente não.

Coitadinho, ontem encontrei meu amigo mineirinho na rua. Sabem como é né? Joãozinho mora em uma cidadezinha escondida do mundo, terra batida no chão.

Vem para cidade grande, fica perdido.

Dessa vez, veio timidamente contar sua última proeza.

“Mázzola, fui ncinêma. Ô luizona sô, ilumino um varal enóórmi!” Acho que até então a luz mais forte que tinha visto foi de um disco voador em sua cidade natal. Enfim... “Eu quero é môrálá, ô treim bão! Cumendo cuns pé na cadêra da friente viendo nuvela num telão desses!”.

Pois é. Isso mesmo. Joãozinho foi comer no cinema. Maravilhado com as fantásticas guloseimas expostas pela vitrine logo na entrada, sentiu-se na “Fantástica fábrica de chocolates”, se deliciou até sujar a orelha com doces, e não o bastante, pediu um cachorro quente.

“Moçô, bota tudim qui o cê tem démdrolanchi”

Imagino a cena, magro de dó, entrou carregando uma bandeja com um hot-dog tamanho GG. Assim que se acomodou na 2ª fileira (a 1ª não tinha aonde colocar os pés), pegou com as duas mãos o saboroso e nutritivo alimento e na primeira dentada, escorreu molho, milho e ervilha em sua camiseta do Galo.

Problemas? Nenhum. Joãozinho nem piscava vendo o anúncio do Bradesco em 15 metros de largura. Olhinhos brilhantes. Lembrou Zezé de José Mauro de Vasconcellos em “Meu pé de Laranja Lima”, um jeito simples, alegre e inocente.

Quando as batatas palhas, inundadas por Catchup começaram escorrer pelos seus braços, viu o tamanho do problema. Aquela gosma ia logo cair no chão e sujar a poltrona. “Ai meu Deus. U lantêrrninha vai mandá eu imbóra”. Fez uma conchinha com a palma da mão direita e num movimento rápido removeu de baixo para cima a grossa camada de alimentos em seu peito. Tinha de tudo, bacon, ovo, ervilha, mostarda, carne moída, molho, catupiry, mas ele não tinha aonde jogar. Se levantasse, iria chamar atenção dos funcionários. Com sua inteligência limitada resolveu guardar tudo no bolso de seu jeans surrado, o mesmo que mantinha a barra suja de barro, “recordação” da casa lá de Minas.

Umas seis conchas foram necessárias para o pobre Joãozinho sentir a pasta em sua perna. “Avi Deus, tô tudu melecádu”.

Lembrou-se de quando conheceu o mar e fez aqueles buracos gigantes. Parecia que ia achar petróleo ficava com areia até dentro da orelha.

Esse é meu amigo Joãozinho. Exagerado.

Fez um malabarismo digno de Soleil e conseguiu sugar 150ml de coca cola num baita canudão que estava fincado na lata, posicionada estrategicamente ao seu lado direito.

A pasta em sua boca foi se esfarelando, possibilitando então a ingestão.

O molho, que devia estar dentro de sua boca estava espalhado por inteiro na sua face. Devia ter sido uma cena memorável. Segundo alguns, lembrava o Bozo.

Mas tudo foi contornado.. Na metade do longa metragem, os molhos em sua camisa já estavam quase solidificados. Seus braços, pareciam que tinham parido uma vaca. Com molho até o cotovelo, também secos.

Seus bolsos. Ah, seus bolsos. Vou deixar sua imaginação fazer esse trabalho. Assim como eu também imaginei quando ele me contou.

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