terça-feira, 26 de junho de 2007

HospiCaos

Hospital, caos e hospício. Nem eu sei aonde eu fui parar.

Finalmente (aleluia x3) fui tirar meu rabiscado gesso. Chegando na sala de espera, logo encontrei a "adoravel" atendente que vejo toda semana preenchendo fichas. Logo me lembrei da sua adorável vontade de trabalhar. Acho inclusive que ela ganha para fazer cara feia.

Peguei minha senha "874" e sentei. Primeira coisa que eu olhei foi o número do painel, 869. Faltam 5, beleza. O negócio é aguardar. A segunda coisa que olhei foi quem eram esses 5. Duas gordas enormes, (pelo calcanhar, uma devia ser doméstica), 2 velhinhos e uma moça que devia estar hipnotizada com um buraco na parede que por nada ela piscava (a muleta dela quase caiu e ela nem tchum).

Os minutos seguintes se deram por conta do tic tac das marretadas na parede (o hospital está em reformas) e, como não se pode parar o atendimento, só adianto que a espera foi longa. E doída.

Cada quilo de parede que caía moída no chão era um alívio. Bom, alívio era uma palavra inexistente, onde só vejo pessoa estrupiada, engessada e quebrada. Minha preocupação era ficar de olho na minha muleta. (Como um encontro de cachorros no Taquaral num domingo, as muletas se encontravam na sala de espera. Como aluguei a minha, olho nela).

Tudo ia bem até um pedreiro dar uma marretada na vidraça. O velhinho que estava conversando com sua senhora desviou dos estilhaços feito granada na guerra. Coitado, o vidro estava atrás dele, mas com o susto ele não sabia o que era, nem aonde tinha sido. Ele buscava olhar para o estrondo e se proteger, mas seus olhos varriam a sala toda e não achava nada, uma vez que não virou para trás. Nem deve ter notado que o problema era lá. Enquanto mais estilhaços voavam, eu pensava naquele medo de se quebrar mais vidros.

Estavam simplesmente trocando os vidros. Nada demais. Caramba, por que temos tanto medo do barulho do vidro quebrar? Copo, lâmpada, janela, porta, garrafa, prato... Ué quebrou, quebrou! Não sendo dentro do meu olho (e não sendo meu o que quebrou, vai pau!).

Até então era interessante ver as pessoas saindo pelo lugar errado. Como estava sentado na primeira fileira de cadeiras da espera da ortopedia (tinha uma outra sala ao lado que era da clinica geral, e, por essa sala, uma porta dava o acesso ao atendimento de ambos. Portanto, uma vez atendido, a saída era pela porta de espera da clínica, se você pegar a porta errada, cairá na moça sorridente e contente que atende a ortopedia). Uma delicadeza. Via quase todos voltando pelo caminho errado dando de cara com a exemplar trabalhadora. (Cheguei a pensar em colocar uma sulfite em baixo do balcão - na altura dos meus joelhos - CUIDADO, ATENDENTE CHATA. Mas achei melhor não). Era divertido ver ela atendender tanta gente desinformada de uma vez só.

Bom, já passava UMA hora que eu estava lá esperando e advinhem quantos faltavam para me chamar? Isso mesmo. Cinco. Comentei baixinho para não tumultuar “acho que o médico está amputando o 869”. Depois meu sarcasmo resolveu pairar “Acho que ele ficou vendo o programa do Jô até tarde e ele não chegou. A verdade que o 869 foi o último paciente de ontem”.. e por aí fui.. mas já era tarde. Uma senhora (barraqueira) chegou, pegou sua senha e fez um barulho próximo a uma mistura de gralha comcodorna (nhéuhuu)

Ainda com as marretadas deliciando minha audição, concentrei na senhora (a barraqueira) “Faltam vinte números... e fulana tá esperando ali com dor (poxa, eu também tava, mas vi que não era hora de me meter).. me passa na frente!”.

Ave mãe, a senhora avantajada citada no início suspirou tão fundo que eu tive medo. A velhinha então olhou para o senhor dela e fez uma cara que parecia cólicas renais. E eis que nesse minuto, a moça da muleta a minha direita fez um movimento rápido e enfiou a mão na bolsa. Meu Deus, ela vai matar ou a enfezada que preenche as fichas, ou o médico ou a senhora (sim, a barraqueira). Quando ela puxa de dentro da bolsa uma agulha enorme de crochê azul com um novelo maior que seu própriocoração. “Putz, o negócio vai longe”.

Para um alívio geral da nação dos perna de pau (minha muleta era de ferro), não se andava mais na sala tamanho número de peraltas na espera. E eis que o número bipou, uma hora e meia depois, 871. Pois é. E o 870? Meu, dane-se o 870, faltam 3. Nesse mesmo bilhonésimo de segundo, piscou e bipou 873. E o 872? As favas! Falta 1.

Tudo bem, assumo, tinha um pequeno e mínimo receio que fosse para o 875. Mas foi quando vi o cálice sagrado. O 874 estava lá, brilhando, como a tocha olímpica no horizonte de meus olhos. Um verdadeiro Santo Graal.

Fui capengando, todo torto desviando da turma. Um olé para a senhora (a barraqueira), uma pedalada de cá, e estou já chegando na sala.. quando vejo na porta do ortopedista a senhora gorda do 870 e a da muleta (que estava ao lado direito - vulgo senhora 872). Eu achei que os velhinhos deviam estar lá, uma vez que chegaram antes.. mas nem estavam, acho que desistiram e perdi eles de vista. Sei que estava eu na porta do próprio São Francisco e este dispensando o 872, “não te chamei” Aeeee tumtumtum.

Meu caso era mais rápido, e foi. Duas longas semanas.

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